CINTO-ME VIVO: ENTRE A PEDAGOGIA E A DURA REALIDADE DA ESTRADA
CAMPANHA NACIONAL REVELA INFRAÇÕES, VÍTIMAS E O DESAFIO CULTURAL NAS ESTRADAS
De 9 a 15 de setembro de 2025, a campanha “Cinto-me Vivo”, promovida pela ANSR em conjunto com a GNR e a PSP, voltou a colocar a segurança rodoviária no centro da atenção pública.
Segundo dados oficiais das três entidades, o mote era simples — usar sempre e corretamente os dispositivos de proteção —, mas o balanço final deixa um retrato paradoxal: por cada gesto de prevenção, persiste uma franja resistente de comportamentos de risco.
UMA OPERAÇÃO MASSIVA, MAS QUE EXPÕE FRAGILIDADES
Foram fiscalizados mais de 5,4 milhões de veículos em apenas uma semana. À primeira vista, a dimensão impressiona. No entanto, registaram-se 648 infrações relativas à não utilização ou utilização incorreta de dispositivos de segurança (cintos, cadeirinhas e capacetes). Em termos proporcionais, trata-se de apenas ≈0,012% do total fiscalizado. Mas basta uma única falha para que um acidente banal se transforme em tragédia.
A campanha não se limitou à repressão. Em ações de sensibilização realizadas em Almada, Coimbra, Gondomar, Santa Maria da Feira e Vila do Conde, além das regiões autónomas, 702 condutores e passageiros foram abordados diretamente. O objetivo era reforçar mensagens já conhecidas: cadeirinhas homologadas para crianças, cintos em todos os lugares e capacetes devidamente ajustados. O desafio continua a ser transformar recomendações em hábitos inquestionáveis.
SETE MORTES QUE MARCAM A SEMANA
Durante o período da operação registaram-se 2.963 acidentes. Desses, resultaram sete vítimas mortais, 68 feridos graves e 962 ligeiros. Comparando com igual semana de 2024, houve menos nove mortes e mais 12 feridos graves. A gravidade dos sinistros não desapareceu; apenas mudou de contornos.
As mortes ocorreram em estradas nacionais e arruamentos, em distritos como Coimbra, Lisboa, Porto, Évora e Setúbal, envolvendo desde despistes isolados a colisões múltiplas. A faixa etária das vítimas (18 a 76 anos) confirma que o risco não conhece idade. A estatística é fria, mas cada número corresponde a um rosto e a uma família em luto.
ENTRE FISCALIZAÇÃO E MUDANÇA CULTURAL
Ao todo, esta foi já a nona campanha do Plano Nacional de Fiscalização de 2025. Faltam duas até ao final do ano. Desde 2020, estas operações têm sido alinhadas com recomendações europeias, incidindo em temas como velocidade, álcool, telemóvel e segurança dos motociclistas. Mas a questão central permanece: quantas campanhas serão necessárias até que o uso do cinto ou do capacete deixe de precisar de lembretes?
No espaço europeu, a meta definida pela Comissão Europeia é clara: reduzir em 50% as mortes na estrada até 2030. Portugal tem vindo a progredir, mas a cada campanha como a “Cinto-me Vivo” percebe-se que a distância até essa meta não se mede apenas em números. Mede-se na cultura de responsabilidade de cada condutor.
O CINTO COMO METÁFORA
A “Cinto-me Vivo” mostra-nos que a estrada continua a ser palco de escolhas humanas. Um cinto desapertado pode parecer um detalhe irrelevante, mas é, muitas vezes, a linha ténue entre sobreviver ou não a um embate. É aqui que a pedagogia encontra a urgência: a segurança não é garantida pela presença policial ou pelo radar automático, mas pelo compromisso individual de cada pessoa que entra num veículo.
Afinal, a mensagem da campanha nunca foi tão literal: apertar o cinto é, realmente, escolher viver.

