PRÓLOGO AO MILÍMETRO EM GRÂNDOLA NO RALLY RAID PORTUGAL
NASSER AL ATTIYAH E GONÇALO GUERREIRO EMPATAM NO ARRANQUE
PRÓLOGO AO MILÍMETRO EM GRÂNDOLA
Cinco quilómetros bastaram para comprimir o bp Ultimate Rally Raid Portugal num funil competitivo: os cinco carros mais rápidos caberam em três segundos e o cronómetro não distinguiu o primeiro do segundo. Nasser Al Attiyah (Dacia Sandrider) liderou o prólogo com 5m02,9, mas a manchete dividiu-se com Gonçalo Guerreiro (Taurus Evo Max), que assinou exatamente o mesmo tempo num Challenger — contraste de categorias, igualdade no relógio. O ensaio curto virou barómetro de intenções.
A MULTIDÃO E O CENÁRIO EM GRÂNDOLA
A moldura popular fez o resto. O traçado desenhado no centro de Grândola transformou a vila num circuito efémero, com 111 pilotos (61 carros e 50 motos) a dispararem num “rali sprint” de alta rotação. Quem leu o terreno, colheu dividendos: Mattias Ekström (Can-Am XRS) ficou a 1 segundo; Lucas Moraes e João Ferreira, em Toyota Hilux T1+ Evo, pararam a 3 segundos da referência, enquanto Alexandre Pinto (Polaris RZR) cravou o sétimo registo e apontou o topo entre os SSV. A mensagem foi clara: prólogo curto não é prólogo inofensivo.
LUZES E SOMBRAS ENTRE OS FAVORITOS
Nem todos respiraram à mesma altura. Entre os oficiais, Sébastien Loeb (Dacia Sandrider) ficou pelo oitavo posto a 7 segundos, condicionado pela poeira que cegou referências e obrigou a travar em zonas críticas. Yazeed Al Rajhi, vencedor do Dakar 2025, terminou em 17.º, a 16 segundos. E Carlos Sainz encerrou a folha (61.º), estacionado por um problema elétrico que lhe custou 1m28 — lembrete de que, neste formato, a margem de segurança evapora.
KTM DOMINA NAS MOTOS
Nas motos, a KTM ditou ritmo e variedade. Daniel Sanders impôs 4m47,0 e deixou um aviso sem sublinhados: veio para vencer. A surpresa teve assinatura de Edgar Canet, também em KTM mas na categoria Rally2, apenas 2 segundos atrás e à frente das potentes RallyGP. Michael Docherty selou o terceiro (+7 s), Tosha Schareina o quarto (+10 s) e Alfredo Pellicer o quinto (+11 s). O fosso entre os dez primeiros ficou reduzido a 15 segundos, suficiente para baralhar ordens de partida e multiplicar cenários. Entre os portugueses, Martim Ventura (Honda CRF 450 Rally) registou o 19.º tempo, a 22 segundos do melhor.
BALANÇO CRÍTICO
O saldo do dia não é um veredito, é um ponto de partida. A classificação compacta promete ataque desde cedo na etapa inaugural: saída e chegada em Grândola, 425 km totais com 302 km cronometrados, desenho mais a sul em direção a Beja, piso rápido e final com 30 km de areia a pedir navegação limpa e sangue-frio.
- Al Attiyah cumpriu função: tempo de topo e colocação tática para abrir a corrida.
- Gonçalo Guerreiro capitalizou o traçado e provou que a categoria não dita o titular do protagonismo.
- Ekström, Moraes e João Ferreira mostraram fôlego de disputa direta pela liderança no imediato.
- Loeb, Al Rajhi e Sainz levam lições distintas: leitura do pó, gestão do risco e fiabilidade serão temas do dia seguinte.
- Sanders confirmou autoridade; Canet baralhou hierarquias ao morder os calcanhares com uma Rally2; Ventura leva o estandarte nacional para a especial longa.
Grândola ofereceu um prólogo de agulha fina: igualdade rara, diferenças microscópicas e um aviso a toda a caravana — aqui conta cada metro. Hoje, com mais quilómetros e a areia a fechar a cortina, veremos quem transforma o ensaio em narrativa principal.

