ELVAS ENTRE A FÉ E O CONVÍVIO NAS FESTAS DO SENHOR JESUS DA PIEDADE
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ELVAS ENTRE A FÉ E O CONVÍVIO
De 20 a 28 de setembro, Elvas volta a ser palco de uma das mais emblemáticas dualidades da cultura portuguesa: a que junta devoção e feira popular. As Festas em Honra do Senhor Jesus da Piedade e a Feira de São Mateus não são apenas datas no calendário — são o espelho de uma identidade enraizada, que atravessa séculos e continua a mobilizar multidões.
O CORTEJO QUE ABRE O CAMINHO
Tudo começa com a Procissão dos Pendões, no dia 20. Não é uma marcha qualquer: é um cortejo que atravessa quilómetros e séculos, ligando paróquias e comunidades em torno da imagem do Senhor Jesus da Piedade. Nascida no século XVIII, a procissão não perdeu solenidade nem simbolismo, funcionando como o sinal de partida de um ciclo em que a espiritualidade se afirma no espaço público.
Durante a semana, seguem-se missas, novenas e momentos litúrgicos que alimentam a vertente religiosa da festa. A repetição não lhe retira significado; pelo contrário, reforça a ligação de Elvas a uma devoção que moldou gerações.
FEIRA PROFANA: A OUTRA METADE DA FESTA
Mas Elvas não se esgota na solenidade. Ao lado da fé ergue-se o Parque da Piedade, onde a Feira de São Mateus toma conta do convívio. Gastronomia, diversão e música compõem um cenário paralelo, tão identitário como o religioso. É aí que se cruzam famílias, amigos e visitantes, transformando a cidade num ponto de encontro que mistura tradição e espetáculo.
O cartaz de 2025 confirma essa aposta: de Sara Correia a Quim Barreiros, de Slow J a D.A.M.A com Los Romeros, passando pelo espanhol Abraham Mateo, a programação é um retrato de diversidade. Há espaço para o público jovem, para os clássicos da música popular e até para os mais novos, com espetáculos infantis de Super Wings e Bluey.
Já no Palco da Feira, a sonoridade ganha raízes locais: Voz Amiga, Cantadores da Planície, Xumbo Torto e Roncas D’Elvas dão corpo à música tradicional, lembrando que a festa também é território de afirmação cultural da região.
ENTRE A DEVOÇÃO E A ECONOMIA
As Festas do Senhor Jesus da Piedade e a Feira de São Mateus não são apenas um acontecimento religioso ou um arraial popular. São, sobretudo, um espaço onde fé e convívio coexistem, reforçando a identidade de Elvas e projetando-a no mapa nacional. A cada setembro, a cidade renova a sua capacidade de reunir milhares de pessoas, ao mesmo tempo que dinamiza a economia local.
UM PATRIMÓNIO QUE PEDE CONTINUIDADE
A edição de 2025 carrega esse peso: manter viva uma tradição que não é só memória, mas também futuro. Preservar o património religioso e cultural é, aqui, tão importante quanto garantir que Elvas continua a ser destino de quem procura, num só lugar, espiritualidade e festa.
Entre procissões e concertos, fé e feira, a cidade mostra que a sua identidade está na capacidade de conciliar mundos distintos. É nessa convivência que as Festas encontram a sua grandeza — e é nesse equilíbrio que reside a promessa da sua continuidade.

